ATA DA VIGÉSIMA QUINTA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 21.04.1989.

 


Aos vinte e um dias do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Quinta Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às nove horas e quarenta e cinco minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Heriberto Back, Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz Machado, Omar Ferri, Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson Santos, Wilton Araújo, João Bosco e Nereu D’Ávila. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Wilson Santos que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura das Atas da Vigésima Quarta Sessão Ordinária e Sexta Sessão Solene, as quais deixaram de ser votadas por falta de “quorum” deliberativo. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Ervino Besson, 01 Pedido de Providências solicitando conserto e limpeza do bueiro na Rua Dário Totta, em frente ao nº 499; e pelo Ver. Luiz Machado, 01 Emenda ao Projeto de Lei do Legislativo nº 10/89 (Proc. 0705/89), que autoriza a construção de um ponto fixo, com recursos financeiros do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto Alegre, para comercialização e divulgação dos produtos primários, produzidos no cinturão verde do Município e dá outras providências. Do EXPEDIENTE constaram: Ofício nº 07/89, da Comissão Especial constituída para examinar o PLCE 17/88; e Cartão do Sr. Juiz do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A seguir, constatada a existência de “quorum”, foi aprovado Requerimento Verbal do Ver. Flávio Koutzii, solicitando sejam realizadas, nesta Casa, as comemorações relativas ao Dia do Trabalhador no dia 28 de abril do corrente. Em PAUTA, Discussão Preliminar, estiveram: em 1ª Sessão, o Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 03/89; em 2ª Sessão, o Projeto de Resolução nº 02/89; os Projetos de Lei do Legislativo nºs 26, 25/89, e 115/82, este, discutido pelos Vereadores Adroaldo Correa, Vieira da Cunha e Cyro Martini; em 3ª Sessão, os Projetos de Lei do Legislativo nºs 21, 23, 20, 22, 24/89, e o Projeto de Lei do Executivo nº 165/88. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Wilson Santos lamentou e contraditou a matéria publicada pelo Jornal Zero Hora, com declarações do Ver. João Dib, acerca dos gastos deste Legislativo Municipal e sobre a existência de Bancada, nesta Casa, composta de apenas um edil. Ratificou, ainda, a posição de seu Partido, e de S. Exa., de argüir a inconstitucionalidade do Fundo de Previdência. O Ver. João Dib reportou-se ao pronunciamento do Ver. Wilson Santos, contraditando-o e declarando não ter intenção de atacar aquele Vereador; relativamente à matéria de constituição de Bancadas, leu o Regimento Interno da Câmara Federal concernente ao assunto; ratificou sua posição de que este Legislativo onera os cofres do Município e defendeu a redução do número de Vereadores desta Casa para vinte e um. Asseverou, ainda, que seu zelo é exclusivamente pelos recursos públicos do Município. O Ver. Flávio Koutzii solidarizou-se com o pronunciamento do Ver. Wilson Santos, em Comunicação de Líder; declarou que a atuação do PT é pelo rigor, sobriedade e enxugamento com os gastos públicos, não desconhecendo, no entanto, a importância política das Bancadas constituídas por um só Vereador e reconhecendo a necessidade que essas Bancadas têm de uma assessoria própria. Em EXPLICAÇÕES PESSOAIS, o Ver. Vieira da Cunha comentou o programa do PDT, levado ao ar pela Televisão, a nível nacional, e entrevista do Líder do PT, através da Televisão Guaíba, cotejando posições políticas dos Líderes Senhor Leonel Brizola e Dep. Luiz Inácio. Contraditou resultado da primeira pesquisa publicada, referente aos candidatos à Presidência da República, afirmando ser tal resultado manipulado. Criticou a candidatura do Sr. Fernando Collor de Mello, apontado como preferencial pela referida pesquisa, e defendeu a candidatura do Sr. Leonel Brizola como a ideal para o momento brasileiro. O Ver. Dilamar Machado endossou pronunciamento do Ver. Vieira da Cunha, em Explicações Pessoais; comentou entrevista com o Dep. Luiz Inácio da Silva, pela Televisão Guaíba, e declarações de S. Exa. acerca da Administração do PT na Prefeitura de Porto Alegre. Ressaltou obras e vida política do Presidente Getúlio Vargas; criticou a manipulação das pesquisas e propugnou que as esquerdas do País devem se unir e não atacar-se mutuamente, tendo em vista o enfraquecimento dessas. O Ver. Vicente Dutra analisou projeto de sua autoria, acerca da colocação de quebra-molas onde haja passagem de pedestres. Discorreu sobre o sistema de ondulações, afirmando que tal sistema disciplina e organiza o trânsito, e justificou que esse projeto é uma exigência da população, tendo em vista o elevado número de pedidos de providências dos Senhores Vereadores, solicitando a colocação de quebra-molas. O Ver. Nereu D’Ávila abordou o programa da Televisão Guaíba, o qual apresentou entrevista com o Dep. Luiz Inácio da Silva. Afirmou que surpreendera-se com as invectivas do Líder do PT contra o Líder do PDT, Sr. Leonel Brizola; exigiu respeito para com a memória do Líder gaúcho Sr. Getúlio Vargas, declarando que o Sr. Luiz Inácio da Silva, ao criticá-lo, nos moldes que o fez, afronta o povo gaúcho. Comentou, ainda, denúncia do PTB, em jornal de São Paulo, acerca dos gastos do Sindicato dos Metalúrgicos, e recebimento de dinheiro estrangeiro a fim de patrocinar campanha eleitoral do Líder do PT. O Ver. Flávio Koutzii criticou posicionamento do Ver. Vieira da Cunha, acerca de sua visão hsitórica dos fatos e do governo de Getúlio Vargas; comentou destaque dado pelo PT ao justo reconhecimento da liderança daquele Presidente. Discorreu sobre a visão do PT relativamente à organização sindical, exigindo o reconhecimento e o respeito a sua representatividade e autoridade política na organização sindical do país. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. João Bosco manifestou sua preocupação com a extinção dos campos de várzea, o número reduzido de parques, praças e áreas de lazer na Cidade, afirmando ter se tornado difícil a prática de esportes na Cidade. Criticou projeto de criação de um “cachorródromo”, de autoria do ex-Vereador Frederico Barbosa; solicitou que a Administração Popular torne o acesso das populações dos bairros e das vilas mais fácil e menos oneroso às áreas de lazer; e, também, que sejam colocadas, o mais rápido possível, à disposição da população, as trezentas praças que estão planejadas. O Ver. Luiz Braz reportou-se a declarações do Ver. Flávio Koutzii, de análise do período político e econômico, de 1945, contraditando-o. Criticou programa de governo do PT, denominando-o de inviável; e declarações do Dep. Inácio da Silva, em entrevista pela Televisão Guaíba, acerca de Getúlio Vargas e Leonel Brizola. O Ver. Vieira da Cunha reportou-se ao pronunciamento do Ver. Flávio Koutzii, em Comunicação de Líder, contraditando-o. Discorreu sobre a postura do PDT em relação ao PT, afirmando que seu Partido vem mantendo uma conduta de respeito e aproximação com o PT. Lembrou apoio do PDT à candidatura da Sra Luiza Erundina, quando das eleições para a Prefeitura de São Paulo. E criticou postura do Dep. Luiz Inácio da Silva como candidato à Presidência da República, definindo-a como “presumida”. A seguir, o Sr. Presidente comunicou que, de acordo com Requerimento do Ver. Luiz Machado, seria destinado espaço especial para homenagem ao ex-Presidente da República Sr. Tancredo Neves, pela passagem do aniversário de seu falecimento em 21.04.85. Após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT, historiou a vida política de Tancredo Neves, lamentou sua morte, e cotejou sua atuação na vida política do País com a do mártir, também, mineiro, Tiradentes. O Ver. Flávio Koutzii, em nome da Bancada do PT, fez breve relato sobre o momento histórico da morte de Tancredo Neves e definiu-o como o “arquiteto da transição política do País”. O Ver. Luiz Braz, em nome da Bancada do PTB, analisou a atuação política de Tancredo Neves; lamentou sua morte; definiu-o como símbolo representativo da materialização da esperança do povo brasileiro e destacou que essa esperança, de quebra do ciclo de 1964, ressurge com as eleições diretas para Presidente da República. O Ver. João Dib, em nome da Bancada do PDS, afirmou que as esperanças do povo brasileiro foram fraudadas pelo governo de José Sarney; criticou seu mandato de cinco anos; e discorreu sobre a atuação política de Tancredo Neves, lamentando sua morte. O Ver. Luiz Machado, em, nome da Bancada do PMDB, do PL, do PSB, e como autor da proposição, discorreu sobre a vida e obra de Tancredo Neves, definiu-o como “mártir da democracia” e propugnou eleições diretas para Presidente da República, a fim de que seja instalada uma verdadeira democracia no País. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às doze horas e dezessete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Lauro Hagemann e Adroaldo Correa e secretariados pelos Vereadores Adroaldo Correa e Wilson Santos, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Havendo “quorum”, passamos à

 

PAUTA – DISCUSSÃO PRELIMINAR

 

1ª SESSÃO

 

PROC. Nº 0964/89 – PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO LEGISLATIVO Nº 003/89, de autoria do Ver. Edi Morelli, que altera dispositivos do artigo 24 da Lei Complementar nº 12, de 07.01.1975, e dá outras providências.

 

2ª SESSÃO

 

PROC. Nº 0982/89 – PROJETO DE RESOLUÇÃO Nº 002/89, de autoria do Ver. Luiz Machado, que altera a Resolução nº 785, de 05 de outubro de 1983, que aprova o Regimento Interno da Câmara Municipal de Porto Alegre.

 

PROC. Nº 0968/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 026/89, de autoria do Ver. Edi Morelli, que obriga motéis e similares a fornecerem, gratuitamente, preservativos masculinos (camisas-de-vênus) aos freqüentadores.

 

PROC. Nº 0943/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 025/89, de autoria do Ver. Nelson Castan, que oficializa o Dia da Imprensa Judaica no Município de Porto Alegre.

 

PROC. Nº 1305/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 115/82, de autoria do Ver. Vicente Dutra, que dispõe sobre a obrigatoriedade de construção de quebra-molas em frente aos estabelecimentos de ensino e outros, e dá outras providências.

 

3ª SESSÃO

 

PROC. Nº 0860/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 021/89, de autoria do Ver. Edi Morelli, que altera o art. 14 da Lei nº 3.790, de 05.09.1973, que estabelece normas para exploração de serviços de táxis e dá outras providências. Com Emenda.

 

PROC. Nº 0881/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 023/89, de autoria do Ver. Cyro Martini, que dispõe sobre promoções desportivas municipais e dá outras providências.

 

PROC. Nº 2833/88 – PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO Nº 168/88, que declara de utilidade pública a Associação Gnóstica Cristã do Brasil. Com Mensagem Retificativa.

 

PROC. Nº 0849/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 020/89, de autoria do Ver. Leão de Medeiros, que denomina Rua Inspetor João Corrêa Almeida um logradouro público.

 

PROC. Nº 0865/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 022/89, de autoria do Ver. Leão de Medeiros, que denomina Rua Soldado PM Oscar Silva da Silva um logradouro público.

 

PROC. Nº 0908/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 024/89, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, que denomina Rua Marcos Spritzer um logradouro público.

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, para discutir a Pauta, o Ver. Adroaldo Corrêa.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, bom dia, gostaria de ser breve, até porque o autor do Projeto não está em Plenário, mas quero suscitar o debate sobre o Processo nº 0305, Projeto de Lei do Legislativo nº 115/82, do Ver. Vicente Dutra, que dispõe sobre a obrigatoriedade de construção de quebra-molas em frente aos estabelecimentos de ensino e dá outras providências. Ultimamente, em Porto Alegre, tem ocorrido que os acidentes de trânsito têm demandado medidas justas, reivindicadas justamente de organização e controle do trânsito e escoamento do tráfego. Algumas cidades na Grande Porto Alegre, como Esteio e São Leopoldo, têm esse dispositivo quebra-molas, com ou sem sinalizador, disseminado nas vias.

Eu não tenho conhecimento de estudos técnicos a respeito e conheço alguns em algumas vias, como em frente ao Beira-Rio, que objetivamente tem uma função em alguns horários. No horário de pique, no horário de movimentação de escolares, tem realmente a função de controlar de alguma forma o fluxo do tráfego. Não sei se é a melhor forma para defesa do pedestre no trânsito. Já que é a 2ª Sessão, vou consultar o Processo mais amplamente, mas vejo com preocupação a disseminação disso na Cidade, como se o quebra-molas substituísse o controle, a regulação do trânsito a partir do próprio profissional, a ele designado por tarefa da sua própria corporação, que é a Brigada Militar, a qual tem como uma de suas funções básicas o controle do tráfego na Cidade. O quebra-molas em si, como sinalizador, para determinados tipos de veículos, não segura o tráfego veloz, nem mesmo o sinal vermelho, no processo em que o aprendizado das leis do trânsito e da civilidade no trânsito em nosso País se encontra, é barreira suficiente para a organização razoavelmente disciplinada e humana que dê prioridade ao pedestre. Parece-me que o equipamento é o mais oneroso dentre os que sinalizam o trânsito em uma cidade, ainda mais se for acoplado com o sinalizador de ruídos, além do quebra-molas.

Então, se tivermos a disseminação em frente de escolas e de outros locais que o Projeto não especifica em sua ementa, mas que deve detalhar, talvez em frente de supermercados, teremos uma cidade de lombadas, com certeza, porque temos umas centenas de escolas - trezentas, como diz o Ver. João Dib em auxílio a este Vereador -, bem como supermercados e pontos de confluência por vias de curso rápido na Cidade. O debate se faz necessário porque passa a ser uma faca de dois gumes na medida em que poderá ser o próprio agente provocador de acidentes, talvez protegendo o pedestre de alguma forma, mas pegando de surpresa os motoristas e o próprio visitante, na medida em que a sinalização não fosse mantida permanentemente. Então, é preciso que se discuta esse Projeto vendo a função do profissional, hoje, em comparação com a melhoria e a possibilidade de melhoria a partir desse equipamento.

 

O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Nobre Vereador, eu cumprimento V. Exª pela preocupação e na realidade é um equipamento que deve ser muito bem estudado, nós nos deixamos levar pelas emoções e esquecemos às vezes os problemas que determinadas soluções trazem. No caso do sonorizador, há muita gente que não consegue dormir e que está nas proximidades. Então, já é um problema sério que deve ser examinado. Quer dizer, eventualmente, excepcionalmente talvez seja a solução e é uma solução que o Conselho Nacional de Trânsito não permite. Define onde pode ser utilizado, mas, lamentavelmente, está sendo disseminado no Rio Grande do Sul pelo menos e em muitos lugares e às vezes sem nenhuma sinalização que dê tranqüilidade a quem utiliza as vias e não conhece e de repente se depara com uma lombada sem nenhuma sinalização. Então, o problema é sério e V. Exª coloca que tem que ser muito bem estudado.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Sou grato pelo aparte de V. Exª que contribui para a preocupação deste Vereador quando quer debater o tema. Não temos, em princípio, nada que seja contra a qualidade do nosso trânsito, que determina às vezes a morte por acidente provocado ou inadvertidamente ou por velocidade desenvolvida em excesso, com a responsabilidade do próprio autor, que venha em contribuição ao melhor andamento, melhor fluxo do tráfego e a segurança dos cidadãos, neste ponto de vista.

Nós gostaríamos de ver debatido, quando este Projeto for analisado mais aprofundado nas Comissões, e creio que será, este aspecto de ser a melhoria através do serviço ampliado, de uma forma alternativa que se construa a esta, que é o sinalizador na via, um debate e com algum detalhe técnico maior que eu pudesse contribuir para elucidar essas preocupações que, em princípio, a gente coloca aos nobres colegas.

 

O Sr. Dilamar Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Evidentemente que o assunto é importante, é boa a lembrança de V. Exª de discuti-lo. Eu apenas queria, como ainda não manuseei o Processo e o Projeto do Ver. Vicente Dutra, saber ele obriga ou autoriza o Município à construção de quebra-molas e sinalizadores.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Ver. Dilamar Machado, na ementa diz que dispõe sobre a obrigatoriedade, pode ser que obrigue ou não. Quando dispõe, talvez, esteja em nosso poder estabelecer esse parâmetro.

 

O Sr. Dilamar Machado: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Mas, é indiscutível que a tese que V. Exª levanta é séria, porque é lógico que a morte de duas crianças, ou três crianças como ocorreu defronte à escola próxima ao Estádio Beira-Rio, ela emociona a Cidade porque se trata de morte de criança, agora, indiscutivelmente, o número de mortes, de óbitos em trânsito na Cidade é infinitamente superior ao que ocorre na frente das escolas. O problema é grave, tanto que hoje, nas estatísticas de óbito do País, não tenho absoluta certeza, mas me parece que a segunda causa mortis do brasileiro, hoje, é acidente de trânsito. Terceira, diz o Delegado Cyro. A primeira, o coração, segunda, o câncer, e a terceira, o automóvel, o trânsito.

É importante a preocupação de V. Exª e em princípio me parece que a sua tese é absolutamente correta. Tem que debater a matéria e isso pode, ao invés de dar uma solução, criar um problema muito grande para o Município.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Muito obrigado, Vereador.

 

O Sr. Ervino Besson: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Agradeço o aparte de V. Exª e creio que o assunto é bastante sério, mas, no meu modo de pensar, aquele quebra-molas que foi colocado na frente do Beira-Rio, do Colégio Maria Imaculada, acho que aquilo muito pouco adianta, porque várias vezes passei lá e até fiquei um determinado tempo vendo os automóveis, o automóvel que cruza lá diariamente não respeita. Aquele tipo de quebra-molas e sonorização muito pouco resolvem para mim, porque a saliência é muito baixa e o pessoal que passa lá diariamente não respeita. Agradeço o aparte a Vossa Excelência.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: Agradeço, muito obrigado pelo seu aparte. Pois, foi observado justamente que aquela era uma região em que havia dificuldade de controlar, principalmente num momento de travessia de escolares, se não houvesse, além da sinaleira, que também não é respeitada, o guarda de trânsito, talvez até se justificasse o quebra-molas com sonorizador, para alertar o motorista que não devesse estar na velocidade que está, mas, estando na velocidade que está é que é a questão problemática.

Acho que é nisto que a gente deveria trabalhar, numa perspectiva que a Cidade e o País todo viesse a debater esse alto índice de mortalidade através dos acidentes de trânsito e o que é fundamental: a falta de educação correta e objetiva em relação ao valor da vida sobre o valor da experiência e da velocidade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é o Ver. Vieira da Cunha.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, a exemplo do Ver. Adroaldo Corrêa, não tive ainda, também, oportunidade de analisar mais profundamente o Projeto de Lei de autoria do Ver. Vicente Dutra que dispõe sobre a obrigatoriedade de construção de quebra-molas em frente a estabelecimento de ensino e outros. Quero de antemão deixar minha posição pessoal manifesta aos meus colegas Vereadores a respeito desse tema. Não sei quais são os outros estabelecimentos a que se refere o Projeto de Lei do Ver. Vicente Dutra, pretendo estudá-lo oportunamente, mas, no que se refere a estabelecimentos de ensino, quero, preliminarmente, deixar minha posição favorável ao Projeto de Lei.

Quanto à violência do trânsito, todos nós somos testemunhas e alguns, por certo, vítimas deste que é, seguramente, um dos trânsitos mais violentos do nosso País. Nós temos criminosos em potencial transitando livremente pela Cidade, diariamente. E o trânsito neste País, ele precisa de uma vez por todas se voltar para o pedestre, e não para o automóvel, e não para o veículo automotor, o pedestre tem que ser o centro das preocupações, e me ouve aqui o Delegado Cyro Martini, cujos serviços profissionais por longos anos foram prestados ao trânsito do nosso Estado e da nossa Cidade. É um dos profissionais mais preparados, mais brilhantes nesta área no País. Tenho certeza que concordará que precisamos redefinir regras de trânsito que coloquem a pessoa humana, o pedestre, no centro de todas essas regras, de todas essas preocupações.

Vejam que uma Cidade que não respeita nem as faixas de segurança... É por isso que Projetos dessa natureza são justificáveis, porque num País que tivesse uma educação mínima para o trânsito, bastaria uma simples faixa de segurança em frente à escola para que o problema fosse resolvido. Mas não existe respeito nenhum, como V. Exª disse, não respeitam nem o semáforo, que dirá uma simples faixa de segurança. Então, na minha convicção, se justifica plenamente este Projeto de Lei de autoria do Ver. Vicente Dutra, no que se refere aos estabelecimentos de ensino. Porque mesmo sem sinalização, Ver. João Dib, é preferível que o motorista se depare com um quebra-molas do que se depare com um corpo indefeso de uma criança, como muitas vezes acontece.

 

O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Numa oportunidade, como Secretário de Transporte, eu solicitei que fosse colocado um quebra-molas, a pedido da escola, na Rua Otto Niemayer. E sem os devidos cuidados e sem as devidas atenções técnicas, mas apenas uma sinalização indicando que havia um quebra-molas à frente. Entretanto, a própria escola pediu para que fosse retirado esse quebra-molas, porque criava mais problemas do que solução.

Então, tem que ser muito bem estudado esse problema, caso contrário, ao invés de resolvermos o problema de trânsito, estaremos agravando mais ainda. Talvez a solução seja colocar faixas de segurança, semelhantes às que têm na Borges, 2244, em frente ao prédio da SMOV, em blocos de cimento. E que são duradouros e são respeitados. Agora, o que se precisa é educação para o povo, para o trânsito, porque não vai ser com medidas como essas, que o Conselho Nacional do Trânsito condena, que nós vamos resolver.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu fico gratificado é com o final da sua intervenção, porque é claro que todos nós defendemos que o problema, realmente, é de educação para o trânsito, mas nós não devemos esperar que essa educação chegue, de braços cruzados. Há problemas que temos que resolver agora, já, em curto prazo.

E agora, com a chegada do autor do Projeto de Lei, parabenizo o Ver. Vicente Dutra por esta iniciativa. Só não sei quais os outros estabelecimentos que V. Exª se refere. Vou ter oportunidade de estudar esse Projeto com mais profundidade, mas adianto que, com relação aos estabelecimentos escolares, V. Exª tem de antemão o meu apoio, porque, mesmo concordando com o Ver. Adroaldo Corrêa de que esse equipamento é oneroso, não resta dúvida que se justifica pela sua eficácia. Embora, pelo pouco que conheça, diria até que é o único eficaz e se justifica. Já existem placas que chamam atenção e que dizem: “Motorista não pode ser distraído, escolar pode”. É uma placa educativa, mas cuja eficácia é muito discutível. A faixa de segurança não tem eficácia em nossa Cidade; portanto, é uma medida extrema colocar quebra-molas na frente de todas as escolas. É uma medida extrema, mas é uma medida extrema necessária no meu ponto de vista. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito, Ver. Dilamar Machado. Ausente. Próximo orador, Ver. Cyro Martini.

 

O SR. CYRO MARTINI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a respeito da matéria ondulação transversal nas vias públicas, cuja denominação vulgar é quebra-molas, foi objeto de Projeto de minha autoria. Entretanto, como já havia sido apresentado, em 1982, Projeto igual pelo Ver. Vicente Dutra, o meu passou à qualidade de Substitutivo. A questão me preocupa, e muito. Nós teríamos que analisar por bom tempo o assunto, não seria no curto espaço de tempo disponível que nós poderíamos discutir a respeito da matéria. O meu Projeto visa tão-somente alcançar os estabelecimentos de ensino. O Projeto original, do Ver. Vicente Dutra, alcança também estabelecimentos como hospitais e outros que ora não recordo.

Nós temos colocações como a que eu ouvi quando aqui entrava, do nobre Ver. João Dib, dizendo que o sonorizador causaria perturbação àqueles que moram na circunvizinhança, ao derredor do ponto em que estiver colocado o sonorizador. Eu perguntaria, então, ao nobre Vereador, se não seria o caso de nós mudarmos toda a pavimentação, que nós temos predominantemente de paralelepípedos, que provoca também um ruído, se não igual, semelhante. Afora isto, a matéria tem uma série de outras questões. O ondulador é disciplinado a partir do regulamento do Código Nacional de Trânsito, que tem Resoluções que tratam a respeito. Quando o Ervino Besson, nobre Vereador integrante da nossa Bancada, se preocupa com a altura da ondulação, realmente me parece ter razão, porque é uma ligeira ondulação, todavia, aí, o Município observa o que prescreve a Resolução que trata a respeito da matéria - o Município não tem poder para estabelecer as dimensões do quebra-molas, tem que observar Resolução a respeito.

Eu não acho, também, que apenas a presença do quebra-molas seja suficiente, assim como de toda a sinalização com relação a placas verticais suficientes para alertar. Por isso, eu batalho também pela presença do sonorizador. A par disso, conforme a movimentação, entendo que deva ter, além da sinalização vertical, o sonorizador, que é para chamar a atenção, para alertar ao condutor da presença de uma ondulação transversal adiante. Além disso, nós colocaríamos a ondulação transversal e também o semáforo, que poderia ser, segundo critério da SMT, ou o automático, ou aquele acionado pelo pedestre. Afora isso, nós teríamos também, após, a colocação de uma faixa de segurança.

Os senhores poderiam dizer que seria um excesso, um exagero, eu entendo que não, porque se nós pensarmos que no trânsito nós estamos justamente objetivando resguardar a integridade física de pessoas que estão no uso e gozo da boa saúde, nós vemos que não há excesso, que não há exagero quando assim propomos. Se nós falamos de pessoas que já estão enfermas, que já tem algum problema de saúde, nós estamos falando de alguém cujos dias já estariam contados, mas no caso do pedestre não. Via de regra, são pessoas que estão no uso da boa saúde e isto nos preocupa e bastante. Mas este ano é um ano que nós temos que cuidar ainda com mais carinho do trânsito.

V. Exª tem o aparte, nobre Ver. João Dib.

 

O Sr. João Dib: V. Exª citou-me nominalmente e eu fico preocupado. Eu tenho a pretensão de entender um pouquinho de ruídos e um pouquinho de trânsito.

 

O SR. CYRO MARTINI: Até porque tem uma lei especial.

 

O Sr. João Dib: E em razão dessa mesma lei é que eu recebi vários telefonemas e eu vou lhe dizer que realmente é um inferno suportar o sonorizador, pode uma pessoa saudável se tornar doente, até, pela noite adentro ouvindo aquele ruído todo. E em lugar nenhum do mundo por onde eu andei vi quebra-molas à semelhança dos que estamos colocando aqui. Nós precisamos disciplinar o trânsito, policiar o trânsito, educar o homem que dirige no trânsito para que ele respeite, porque uma lombada destas, não respeitada, pode provocar um acidente muito maior, de muito maior proporção, V. Exª sabe disto, entende muito de trânsito, já foi diretor do Detran, sabe muito bem que se um carro em alta velocidade não respeitar o quebra-molas, pode criar um problema muito mais sério do que até agora ocorreu.

 

O SR. CYRO MARTINI: Daí por que há necessidade do sonorizador, que é justamente para chamar a atenção, principalmente à noite, do condutor. E se nós examinarmos os locais onde hoje temos assentados alguns sonorizadores, vamos ver que são áreas cuja densidade residencial não é tão acentuada. Nós temos um sonorizador em frente ao Internacional, do Maria Imaculada, onde o índice de residências ali, no local, não é tão elevado. Nós temos outro na entrada do Beco dos Marianos, no Partenon, e alguns outros locais onde não há um número maior de residências. Todavia, ainda insisto, como insistiu o nobre Ver. Vieira da Cunha, que a vida humana ainda vale mais do que esta preocupação apenas com relação a algumas pessoas que não sei por que...

Agora, cabe destacar um fato que me chamou a atenção no curso do tempo. Em primeiro lugar, eu diria, os porto-alegrenses, eles resistiram até pouco tempo referentemente à implantação da ondulação, do quebra-molas, da lombada, deste instrumento, deste recurso de modo até um pouco surpreendente. Em torno de Porto Alegre, temos quebra-molas disseminados nos vários Municípios que não observam absolutamente as prescrições regulamentadas. Esses quebra-molas, como por exemplo, na Vila Cecília, em Viamão, se alguém entrar na rua principal da Vila Cecília de moto, ou em Sapucaia, e não souber, ele será fatalmente morto, ali é uma montanha que está sobre a pista asfáltica. Por outro lado, nós temos no interior dos estabelecimentos, como a PUC, estabelecimentos hospitalares, conjuntos residenciais, há muito tempo implantado o quebra-molas. O porto-alegrense não aceitava até pouco tempo o quebra-molas, mas, hoje, já o aceita. Entretanto, as suas dimensões é que devem talvez ser reexaminadas, porque ele, realmente, do ponto de vista físico, acarreta uma preocupação maior por parte do condutor. Este é um dado muito importante.

Agora, ninguém mais do que eu, em termos de educação para o trânsito, sabe do valor da mesma, porque eu fiz educação para o trânsito cinco anos. Claro que o meu mestre foi uma pessoa que é muito amiga nossa, tanto minha, quanto do Ver. João Dib, assim como de outros, que é o Delegado Ivan Borges, ao qual rendo agora minhas homenagens. Mas não é só o comportamento, o mau comportamento do condutor e mesmo do pedestre que ocasiona o acidente de trânsito. As situações com relação à pista carroçável também favorecem a ocorrência de acidente de trânsito. Uma via mal iluminada pode ocasionar acidente de trânsito, e assim sucessivamente, o fator local, as condições da via também podem ser fatores favoráveis. É uma matéria sobre a qual nós vamos ter a oportunidade de nos alongar mais, eu acho de extrema importância, as escolas assim também entendem a ondulação transversal nas vias públicas, é assim que se denomina a partir do Código Nacional do Trânsito e de outras normas pertinentes o que nós vulgarmente chamamos de quebra-molas. Muito obrigado

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa avisa ao Plenário que nós temos hoje ainda, no final da Sessão, um período destinado a homenagem ao ex-Presidente da República Tancredo Neves, pela data de seu falecimento. Nós ainda temos que cumprir uma parte da Sessão que é a Explicação Pessoal. V. Exª queira, por favor, declinar do seu pedido.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII (Requerimento): Seguinte, Sr. Presidente, nós havíamos encaminhado um pedido de realização de Sessão Especial concernente ao 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador. Evidentemente, isto coincide com o feriado do próprio 1º de Maio. Queremos solicitar a antecipação para sexta-feira, dia 28, dentro da Sessão da próxima sexta-feira.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa considera a intervenção de V. Exª como um requerimento verbal e, nesta direção, a Mesa coloca em votação o Requerimento do Ver. Flávio Koutzii, antecipando para o dia 28 do corrente as comemorações do 1º de Maio, que já haviam sido deferidas por esta Casa. Os Srs. Vereadores que aprovam, permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

Para uma Comunicação de Liderança, antes de iniciarmos o período de Explicação Pessoal, o Ver. Wilson Santos, pela Bancada do PT.

 

O SR. WILSON SANTOS: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, mesmo contrariando a vontade do Ver. João Dib, eu uso a tribuna para soar a minha voz em nome do Partido Liberal, que tem uma estrutura importante no Brasil e cuja estrutura eu represento nesta Casa. Quero lamentar profundamente a matéria produzida na “Zero Hora”, tendo como origem o Ver. João Dib, onde implicitamente lança à opinião pública do Rio Grande do Sul que as despesas da Câmara de Vereadores têm parcela consubstancial calcada no Partido Comunista Brasileiro, no Partido Socialista Brasileiro, no Partido da Frente Liberal e no Partido Liberal. Agora se reveste de um clima preocupante, delicado, que me faz respirar fundo para eliminar alguma emocionalidade, porque aquilo que me parecia uma brincadeira, uma ameaça, até alguma coisa que me cheirava a vendeta pessoal, assistida por Vereadores neste Plenário, transcendeu as raias do que eu esperava que poderia acontecer, porque eu havia sido ameaçado pelo meu dileto amigo Ver. João Dib de que a minha voz seria calada nesta tribuna, tendo em vista a movimentação que faria, porque eu havia levantado o problema do Fundo de Previdência desta Casa e de que como uma pessoa só representando um partido, eu não poderia ter o direito de ter essa Liderança e que ele faria de tudo para que eu não pudesse ter essa Liderança. Só que já está indo longe demais. E, hoje, a partir das oito horas, comecei a receber telefonemas de pessoas integrantes do Partido, porque não é a minha pessoa que está sendo atingida, é uma instituição político-partidária que tem uma posição contrária ao fundo de aposentadoria.

E aqui eu quero dizer que se nós vamos discutir despesas para a Câmara, nós vamos discutir globalmente, porque não serão dois assessores do PCB, dois do PFL, dois do PL que vão gerar essa crise financeira na Câmara de Vereadores, até porque se justifica, pois representamos uma estrutura de instituição político-partidária com assento nesta Casa. Agora, vou ter que, inclusive, encontrar formas de levar harmoniosamente a discussão no seio do Partido, porque a decisão contra o Fundo de Previdência e a taxação do Fundo de inconstitucional, ilegal e imoral é do Partido Liberal, que eu represento.

Inclusive, o pessoal do Partido está considerando que tem muito sanguessuga do dinheiro público municipal. E nesse elenco de sanguessugas, têm muitos sanguessugas diretos e indiretos. E nós, agora, vamos caracterizar por escrito os sanguessugas do dinheiro público e discutir, a partir de quinta-feira, na reunião do Partido, com as zonais do Partido. Nós já tínhamos idéia de contratar uma boa equipe de advogados para argüir a inconstitucionalidade do Fundo, vamos ter que voltar a discutir, porque achamos que já havia um avanço, achamos que a participação do Partido teve efeito na redução de gastos com verbas públicas, mas vamos voltar à Mesa e vamos discutir, porque queremos ver, inclusive, quem, no passado, aumentou os índices até chegar até 6% de verbas que vêm para esta Câmara e que essa verba tem que ser administrada pela Casa. De forma que estão na rua, hoje, quatro instituições político-partidárias, Partido Comunista Brasileiro, Partido Liberal, Partido da Frente Liberal e Partido Socialista Brasileiro, como os algozes, como os bodes expiatórios dessa história. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Comunicação de Liderança com o PDS. A palavra com o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, aqueles que me conhecem sabem muito bem que no meu coração não entra a vendeta, sabem, pela minha formação, que não ameaço ninguém, muito menos pelas posições democráticas que venho a ocupar. Agora, sou um homem que defende a coerência. Quando se fala em legal, quando se fala em moral, numa Sessão Solene nesta Casa, é necessário que se saiba o que é Bancada. Bancada não é de um só, não existe Bancada de um só, busquem os dicionários e vejam, Bancada pressupõe, no mínimo, dois. E se quer fazer economia nesta Casa - e não estou fazendo agora, antes de assumir, antes de ser eleito Vereador eu já dizia que esta Casa gastava demais.

Então, não ameacei o Ver. Wilson Santos como não ameaço ninguém, porque não sou de fazer isso, e nem ele deveria temer uma ameaça minha, quem sou eu para ameaçar alguém! Agora, a verdade pode ameaçar. Tenho aqui o Regimento Interno da Câmara Federal que diz: (Lê.) “Os Deputados são agrupados por representações partidárias ou de blocos parlamentares, cabendo-lhes escolher o líder e os vice-líderes quando a representação for superior à centésima parte da composição da Câmara”. Cada líder terá vice-líderes na proporção de um por doze Deputados ou fração que constitui uma representação. A representação com Bancada igual - ainda Bancada, não é de um só - ou inferior a um centésimo dos membros da Casa, que é cinco, não terá liderança, mas poderá indicar em rodízio um deles para expressar sua posição quando da votação de proposições ou para fazer uso da palavra, uma vez por semana, por cinco minutos, durante a primeira parte das Comunicações de Lideranças.

Então, não ameacei ninguém. Acho que esta Câmara custa demais para o povo de Porto Alegre, custa quase 6% de custos diretos. Não sei quem são os sanguessugas, eu não sugo o sangue de ninguém. Eu, Prefeito desta Cidade, exigi que a Câmara voltasse atrás quando me concedia um aumento de 49% e eu tinha direito a 40%. Exigi. Diziam que eu faria um carnaval se a Câmara voltasse atrás, eu disse que faria um carnaval se não voltasse atrás. Voltou atrás e ficou tudo por isso mesmo. Em janeiro eu disse que queria que os Vereadores percebessem menos que os dois mil e setecentos cruzados, na reunião da Mesa e das Lideranças. E é verdade, eu acho que deve ser assim.

Quando assumi a Câmara, no dia 23 de março de 1971, tinha duas Bancadas: ARENA e MDB, dois secretários atendiam as duas Bancadas e dois funcionários atendiam a Casa. Hoje temos cento e trinta secretários atendendo os Vereadores. Hoje nós temos gente pretendendo que tenhamos quarenta e um e não trinta e três. Pois eu acho que tem que ser vinte e um Vereadores outra vez. Então, eu tenho preocupação com os recursos desta Cidade. Pouco se me dá quem é o Vereador, a que Bancada ele pertence ou deixe de pertencer. Eu tenho zelo por dinheiro público. Eu fui Prefeito e não nomeei ninguém. No meu Gabinete sempre teve oficiais de gabinete que poderiam ser nomeados e não o foram. Então, eu tenho zelo pelo dinheiro público. Isto é o um orgulho que eu tenho!

Olhem os relatórios da Prefeitura a partir de 1982, assumi em 1983 e saí em 1986. Vê se aumentou o número de funcionários da Prefeitura. Meu filho não fala comigo porque a sua esposa não é minha assessora. Este é o homem que ameaça? Eu não ameaço ninguém. Quem sou para ameaçar? Por que vou ameaçar? Porque o Fundo na forma que estava não continua? Pois eu também achava que 20% da Câmara era demais, deveria ser só 10%. Então não está dizendo nada demais.

Agora, eu não entendo, quando tenho zelo e preocupação pelos recursos da Casa, que se fale tanto no Fundo como ilegal, como imoral, como antiético, que não se reduzam as despesas, porque eu tenho dois cargos de Liderança que foram usados. Será que alguém mais tem isto aí para dizer? Será que tem? Precisa reunir partido? Eu não perguntei para o meu Partido se queria ou não. Eu tenho moral e tenho ética. Eu não ameaço ninguém, mas também não vou ser ameaçado, também não se farão insinuações sobre a minha pessoa, sobre as minhas atitudes, que são claras, cristalinas. Eu não revido nunca. Eu não tenho raiva de um indivíduo que me deu um tiro e me deixou nestas condições... Tenho dor vinte e quatro horas por dia e não tenho raiva dele. Não faria nada contra ele. Então, não é contra o Ver. Wilson Santos, meu amigo, filho de um grande amigo meu, que eu vou fazer ameaças, tentando revidar uma situação. Mas este é um assunto que eu venho tratando com muito carinho; venho levantando os custos de todas as Câmaras nas capitais brasileiras. Estou recebendo os orçamentos das Prefeituras. Tenho aqui o levantamento, desde 1970, do custo da Câmara, e nós vamos chegar lá. Nós vamos chegar lá! Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PT, Ver. Flávio Koutzii. Cinco minutos com V. Exª, sem apartes.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nós gostaríamos de dar a posição no nosso Partido a respeito dessa polêmica que se inicia com autoridade política e, eu diria, moral, de um Partido que ao ingressar pela primeira vez na Assembléia do Estado desenvolveu a posição de que os cargos de confiança dos diferentes partidos que lá existiam, eram 174 cargos, fossem redivididos de acordo com um evidente critério de proporcionalidade e peso de cada uma das Bancadas, peso numérico, e não se aumentasse o número de cargos de confiança.

Isso não foi aceito por nenhum dos partidos da Casa na oportunidade, nenhum. Nem o PDS, nem o PDT, nem o PMDB e gerou, inclusive, um certo mal-estar na nossa entrada naquela Casa Legislativa. A proposta não era nem a proposta de que não continuássemos a ter assessoria, porque eles eram necessários à qualificação do trabalho político e nós achamos que é necessário, mas, nós achávamos que o número poderia ser redividido, sem com isso desqualificar o nível de assessoria necessário.

O segundo critério, casualmente mais pela minha função de Liderança, eu tenho uma planilha para discutir em nome do Governo do Município com o Sr. Presidente da Casa, Ver. Valdir Fraga, todo o mecanismo de cedências do Município para com os Srs. Vereadores, e já há um acordo e as coisas têm se passado muito bem. Só gostaria de mostrar e informar que dos nove Vereadores do Partido dos Trabalhadores - isso não é uma decisão nossa, nós não estamos contra isso -, nós, até hoje, em nove, que podíamos ter acesso a vinte e sete assessores, três por gabinete, cedidos pelo Município, só pedimos até hoje um, em vinte e sete.

Terceiro elemento: é conhecida a preocupação que o Partido dos Trabalhadores tem tido com o rigor e com a sobriedade, enxugamento destes recursos que se dispõe normalmente às Casas Legislativas, mas não transformamos essa preocupação numa visão, que chamaria apolítica, de substituir de forma completa e absoluta o reconhecimento da necessidade, sim, de uma assessoria qualificada por uma posição complemente ética, de muito bom trânsito na sociedade civil, hoje, que pode sem querer escorregar para a demagogia, que é não reconhecer o direito à necessidade do exercício da atividade política, se requer um certo nível de assessores dos mais qualificados possíveis.

Então, neste sentido, quero também me contrapor a esta parte das declarações do Ver. João Dib concernentes às Bancadas de um só membro, porque é completamente evidente, e justamente como ele disse, como já não é mais o tempo da ARENA e do MDB, é um tempo de abertura democrática e, portanto, do ponto de vista político, do ponto de vista de análise da nossa sociedade é absolutamente normal, lógico e previsível que venham à cena política pequenas forças políticas que vão crescer ou não, depende de sua própria qualidade, da vigência do seu programa, e que elas têm o direito de ter um funcionamento como Bancada para qualificar a sua assessoria minimamente. Porque é uma coisa que aprendemos até em debates, na própria Assembléia Legislativa, o fato de que um Vereador sozinho tenha que defender o projeto de um partido político faz com que, justamente, ele necessite um pouco mais de recursos humanos para enfrentar a tarefa, é uma coisa óbvia. Se um Vereador, “a”, “b” ou “c”, quiser transformar isto em cinco cabos eleitorais, isto é problema dele, ele se desqualifica. Mas se ele está, em primeiro lugar, preocupado em defender o seu projeto político-ideológico, ele realmente necessita destas pessoas. E é neste sentido, que é tradicionalmente conhecido do PT, que me solidarizo com a intervenção do Ver. Wilson Santos. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Primeiro orador inscrito para Explicação Pessoal, Ver. Adroaldo Corrêa, que desiste. Ver. José Valdir, que também desiste. Com a palavra, o Ver. Vieira da Cunha, em

 

EXPLICAÇÃO PESSOAL

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, ontem foi ao ar o programa nacional do PDT, que coincidiu com a visita, em Porto Alegre, do candidato a Presidente da República do PT, Deputado Luiz Inácio da Silva, Lula. Eu assisti ao programa Câmara 2 da TV Guaíba, em que esse candidato era entrevistado e passou a tecer as suas considerações a respeito do programa do PDT e, particularmente, sobre a fala do Presidente Nacional do nosso Partido, Leonel Brizola. E começou o Deputado Lula por afirmar que o PDT havia mostrado só um lado da história, que havia mostrado só o Getúlio Vargas “pai dos pobres”, de 1954, e não o Getúlio Vargas “mãe dos ricos”, de 1937. E eu fiquei pensando qual seria a diferença dessa crítica da velha crítica da UDN, por que, no que se diferencia afinal o PT, nas suas críticas ao trabalhismo e a Brizola, do velho reacionarismo brasileiro?

É por essas e outras que há quem diga que o PT é a UDN de macacão, como diz o Ver. Nereu D’Ávila. Pretender seguir por esse caminho equivocado é demonstrar um total desconhecimento da história, o que é inaceitável para um candidato a Presidente da República. E não se vai justificar essa crítica infundada do Sr. Lula com a sua pouca idade, porque ele tem quarenta e seis e eu tenho vinte e nove. E não é pelos meus vinte e nove anos que eu não conheço minimamente a história desse País. É dever meu, como Vereador, e é muito mais dever dele, como Deputado e candidato à Presidência da República, não incidir em erros grosseiros como este, não tentar fazer a cabeça da opinião pública e, principalmente, da juventude brasileira com idéias totalmente despropositadas como esta. Se Getúlio Vargas teve erros em 1937 - acho que teve - quem, com mais capacidade e legitimidade para julgar isto que o povo brasileiro, que julgou em 1950 e o elegeu Presidente da República do País? Quem é o Sr. Lula para acusar Getúlio e Brizola? Lula estava assistindo matinê, em 1961, quando tinha quinze anos, enquanto que Brizola estava, aqui, mobilizando todo o País pela legalidade democrática.

Então, Ver. Gert Schinke, o mínimo que nós exigimos é respeito aos nossos Líderes, respeito à memória de Getúlio e respeito ao presente e ao futuro de Leonel Brizola. Não tem autoridade política para tecer as críticas que teceu o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, estas e outras barbaridades que ele disse. Fiquei impressionada com o despreparo do candidato do PT à Presidente da República, fiquei realmente impressionado com o que disse e com o seu despreparo mais do que evidente. Eu não sei, Ver. Gert Schinke, se ele não estava inspirado ou se realmente ele é efetivamente mal preparado. É impressionante. E quero finalizar, Sr. Presidente, dizendo que naquele mesmo programa se antecipou o resultado da última pesquisa presidencial em que se coloca o candidato Collor de Mello frente a Lula e Brizola.

Então, ao povo brasileiro, pelos menos na atual conjuntura, se apresentam três alternativas. Primeira, esta farsa nacional, que se chama Collor de Mello, candidato do Dr. Roberto Marinho e da Rede Globo, o caçador, entre aspas, de marajás, forjado pela Globo e o Sr. Roberto Marinho, que devem ter encomendado esta pesquisa e acharam 13%, não sei onde, para este cidadão. Segunda, esta esquerda representada pelo Lula, que não tem respeito com a história e que é despreparada. Terceira, o candidato Leonel Brizola, forjado na história das lutas do povo brasileiro e que representa a esquerda conseqüente neste País, que será o nosso próximo Presidente da República. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, aduzindo ao inflamado e brilhante discurso da Liderança do PDT, para um registro histórico aqui desta Casa, é bom lembrar que o Presidente Getúlio Vargas, depois de deixar a Presidência, por um golpe, em 1945, foi eleito Senador da República por três Estados da Federação e foi eleito Deputado Federal por cinco Estados da Federação.

Mas eu vou, também, fazer um breve comentário a respeito da entrevista do Deputado Federal Luiz Inácio Lula, na TV Guaíba, Canal 2, Programa do Clóvis. Ao se referir às Administrações do seu Partido atualmente no País, o Deputado Lula, que, atualmente recebe, segundo a imprensa, diariamente, aulas de dicção, de português e de latim, para fazer citações latinas que devem impressionar a alguns setores da sociedade brasileira, conseqüentemente, mais ilustrado do que já é, definiu a Administração do companheiro Olívio como fantástica. Foi exatamente esta a expressão: “Temos em Porto Alegre um governo fantástico”. Inicialmente, eu pensei que ele queria agradar à Rede Globo, com o seu tradicional “Show da Vida” aos domingos. Mas não era. E, como eu sou um cidadão atento à língua portuguesa, fazendo o melhor uso possível dela, fui pesquisar no dicionário da histórica figura do “Aurelião”, Aurélio Buarque de Holanda, há pouco falecido, e de lá retirei a exata expressão, o que significa o verbete “fantástico”. E venho aqui dar o meu apoio integral e definitivo ao candidato do PT à Presidência da República: o Governo de Olívio é fantástico. E vejam o que o Aurélio define como fantástico: “Só existente na fantasia ou imaginação; imaginário; ilusório; irreal; falso; simulado; inventado; aquilo que só existe na imaginação”. Fonte: Novo Dicionário Aurélio Buarque de Holanda. Conseqüentemente, companheiros, eu diria que ninguém, até hoje, das oposições de Porto Alegre teve a competência do Presidente Nacional do PT para definir a Administração do companheiro Olívio: falsa, irreal, imaginária, simulada; que só existe na imaginação.

Então, vejam V. Exªs que ou o Lula muda de professor de português ou ele terá imensas dificuldade ao longo da sua campanha, porque definir desta forma tão cruel, embora real, a Administração do seu companheiro Olívio, ou demonstra que ele está totalmente despreparado ou está preparado demais.

De resto, eu quero concordar com as colocações do companheiro Vieira da Cunha, que não é assim que se inicia uma campanha. O companheiro Vieira da Cunha tocou num ponto muito sério: a manipulação da pesquisa já começa. É bom que quem não saiba fique sabendo que nas Alagoas o dono da Rede Globo, da televisão de lá, das repetidoras eventuais do interior do Estado de Alagoas se chama Fernando Collor de Mello. S. Exª, com aquela cara de caipira, na verdade é um tubarão das comunicações do Nordeste. Ele é o próprio representante do Sr. Bob Marinho. Conseqüentemente, há interesse das classes privilegiadas, que não têm o poder da Nação, de fazer com que o povo se iluda com algum candidato caça-fantasma, moralista, dono da verdade, aquele que nunca cometeu equívocos, embora, há poucos anos, na Câmara Federal, o Sr. Collor de Mello era simplesmente o líder do Sr. Paulo Maluf. Ele era malufista convicto, apaixonado. Lutou desesperadamente pela candidatura do Maluf quando da transição que levou Tancredo Neves à eleição por via indireta. Este cuidado precisamos ter.

Eu acho que não sou conselheiro de ninguém, não vou dar receituário para partido da competência do PT, mas acho que não era de nós, que representamos segmentos fortes da luta popular deste País, PDT e PT, estarmos nos espezinhando, minimizando as nossas candidaturas, porque é muito provável que a união das direitas, no desespero da reação, leve, indiscutivelmente, o PT e o PDT a uma aliança no segundo turno. Ou nós apoiando o Lula, ou o Lula apoiando o Brizola. Acho que, conseqüentemente, a hora não é de retaliação e nem de agressão.

 

O Sr. Giovani Gregol: V. Exª permite um aparte?

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Se a Mesa me permite. E eu já havia colocado a palavra à disposição do Ver. Gregol, com quem me solidarizo, porque hoje foi alvo de uma carta não muito gentil na “Zero Hora”.

 

O Sr. Giovani Gregol: Exatamente, mas são ossos do ofício. Vereador, ontem, usando o espaço de Liderança, tive a oportunidade aqui de novo de protestar, contestar mais uma vez que, ao contrário das intenções que V. Exª coloca, expõe, o seu candidato à Presidência da República, 90% sempre têm, pelo menos nas suas declarações, atacado o PT ao invés de atacar a direita, de forma que não é coerente com as suas preocupações.

Quanto às aulas de latim do Lula, não sei a que viriam! Talvez convencer os latinos ou romanos que vivem no Brasil. Quanto às aulas de português ou outros tipos de aula, nosso Presidente Nacional tem, e não nega isto, o quarto ano primário. É um dos homens, um dos políticos mais preparados deste País, sem dúvida nenhuma. E V. Exª concorda com isso. Quanto ao fato de ele querer se aperfeiçoar, graças a Deus, infeliz daqueles que têm a pretensão de saber tudo e não querem melhorar.

Quanto à feliz consulta de V. Exª ao dicionário Aurélio, eu também classifico a gestão aqui do Prefeito Alceu Collares, do seu Partido, não como fantástica, classifico como formidável e V. Exª também deve procurar esta palavra no dicionário para ver o seu significado.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Isto é normal para um Vereador da oposição, agora eu estou concordando. Eu não estou entendendo, pois estou concordando com Luiz Inácio Lula da Silva, o Governo do PT em Porto Alegre é fantástico, efetivamente.

 

O Sr. Giovani Gregol: É um brilhante jogo de semântica que V. Exª faz, nós temos que partir para a análise dos conteúdos políticos e programáticos dos candidatos e as suas bases de apoio, porque o PT, ao contrário do PDT, não anda namorando apoio dos partidos de centro-direita deste País para engrossar as suas fileiras. Muito obrigado.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: E eu diria, inclusive, que além do Governo do Município, também a Bancada é fantástica, conforme acaba de se desnudar o Ver. Gregol. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito em Explicação Pessoal é o Ver. Vicente Dutra.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não conseguindo tempo no momento oportuno, não pude participar do debate que se travou nesta Casa em torno do Projeto de autoria deste Vereador que recoloca em discussão o Projeto de Lei apresentado por este Vereador em 1982. Como foi no último semestre de 1982, ano eleitoral, não houve tempo de ser apreciado. O Projeto é polêmico, reconheço, e foi arquivado, o Projeto que permite a colocação de quebra-molas frente às escolas, parques, hospitais e onde houver a passagem de crianças, velhos e excepcionais. Posteriormente, o Ver. Artur Zanella, na Legislatura passada, reapresentou o Projeto, mas também não houve maior interesse dessa Casa em aprová-lo na ocasião.

O fato é o seguinte: na Legislatura de que participei, de 1977 a 1982, eu apresentei este Projeto. Não foi uma idéia que eu trazia de casa, há muitas idéias que o Vereador traz da sua casa, ele está convicto e formula o projeto em cima da idéia e traz à Casa. Então, comecei a observar que vários Vereadores, inclusive este Vereador, são procurados por pessoas e principalmente por escolas e conjuntos residenciais que pedem a implantação de quebra-molas. E nesta Casa, nesta Legislatura, deve ter pelo menos uns vinte pedidos tramitando. Podem contar que vão encontrar, se nós vasculharmos os arquivos aqui, vamos encontrar centenas de pedidos semelhantes. Ora, comecei a verificar que era um clamor, é uma pressão popular a exigência desses quebra-molas como verdadeiros salva-vidas.

Por uma coincidência muito feliz me procurou numa ocasião, numa reunião de Rotary de que eu participava, o Dr. Dante Campana, que é o atual diretor da Formac, é um estudioso, é um homem preocupado com a comunidade, homem viajado, e ele me disse; “Olha, Vicente, o projeto interessante que vocês podiam apresentar na Câmara é a implantação de quebra-molas”. Eu disse: “Olha, Dante, eu tenho uma preocupação com referência a esse assunto. Isso causa transtorno ao trânsito, atrapalha o fluxo de veículos na Cidade”. Ele me disse: “Não importa. Nos países onde o trânsito é muito mais disciplinado do que no Brasil, como por exemplo, nos Estados Unidos, onde as multas e as penas são muito maiores, lá também tem quebra-molas”. Eu disse: “Não é possível! Tu me conseguirias alguma coisa a respeito?”. E ele: “Consigo, sim, por coincidência vou viajar no próximo mês e vou te trazer farta documentação”. E trouxe. Eu tenho aqui farta documentação da legislação americana - até posso anexar ao Processo - onde se comprova que o sistema de quebra-molas ou o ondulador, outro nome técnico dado ao quebra-molas que poderíamos alterar no Projeto, é fartamente utilizado nos Estados Unidos. Mais do que isso, o Campana - não vi o Processo original, apenas tenho uma cópia aqui, mas deve ter fotografias, pois o Campana teve o cuidado de tirá-las - colocou fotos demonstrando quebra-molas em frente a aeroportos, praças, escolas e assim por diante. Então, essa história de que o quebra-molas é um recurso caboclo nosso, aqui, não é verdade.

Estive, no ano passado, fazendo um curso na Europa e depois viajando por alguns países, constatei que o quebra-molas é utilizado fartamente na Alemanha, na Itália, na França. O pessoal esquece, mas como eu estava atento ao assunto, verifiquei que lá também é utilizado. E nós sabemos como o trânsito nesses países, principalmente na Alemanha, é disciplinado, por qualquer infração de trânsito, o camarada é punido, inclusive com tribunais administrativos rápidos. Passou um sinal fechado, além da multa, ele vai ser julgado pelo tribunal no outro dia.

De modo que estou reapresentando este Projeto e ele pode ser enriquecido, trocando-se o termo quebra-molas para ondulador, mas, no seu cerne, pouco poderá ser mudado. Ele estabelece a obrigatoriedade de construção de quebra-molas em frente a estabelecimentos de ensino, creches, hospitais e praças, parques e outros locais onde se verifica o fluxo de pedestres infantis, idosos e deficientes físicos. Então, eu peço a compreensão dos meus ilustres Pares quanto a este Projeto. Nós vamos voltar ao assunto.

Tem aqui farta documentação, onde diz, no “Diário do Sul”, um relatório de página inteira: “Pelas ruas e estradas, um massacre diário. Com vinte e cinco mil mortos anuais no trânsito, o Brasil conquistou o título de campeão mundial de trânsito”. Diz, mais adiante, algo que me deixa a pensar, inclusive se relaciona muito com aquele posicionamento que eu fiz ontem, Ver. Omar Ferri, depois eu gostaria muito de conversar com V. Exª sobre o que fazer, o que esta Casa pode fazer em apoio àquele porto-alegrense que luta contra a Justiça de Santa Catarina. Mas, aqui diz uma frase, para encerrar, Sr. Presidente: “Se você quer matar o inimigo” - veja bem, Ver. Omar Ferri – “se você quer matar o inimigo, o crime mais inteligente é atropelá-lo”. Aqui, dito por um jurista nacional. E é a pura verdade!

Então, vamos botar o quebra-molas em frente a escolas, parques e jardins para proteger as nossas crianças. Se assim tivesse sido feito em frente à Escola Maria Imaculada, como era pretensão deste Vereador, não teriam morrido três jovens ali. Ali tem sinaleira, tem tudo que é tipo de sinalização, só faltou o quebra-molas para fazer o carro parar, o motorista estava desatento e atropelou aquelas duas meninas, duas mortes, um ano depois, mais uma morte. Aí, sim, colocaram quebra-molas lá. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito em Explicação Pessoal é o Ver. Nereu D’Ávila.

 

O SR. NEREU D’ÁVILA: Sr Presidente e Srs. Vereadores, nós também, ontem, fomos surpreendidos, no Programa do Canal 2, à noite, com as invectivas do candidato do PT contra o Governador Brizola. E além de uma ironia, e como disse outro Vereador, uma falta de preparo, nós consideramos que o Sr. Lula queria também afrontar o povo gaúcho. Este é o termo, acintosamente ele afrontou o povo gaúcho. Até os libertadores, de lenço encarnado no pescoço, hoje, que foram os maiores adversários dos republicanos, cuja descendência política desaguou em Jango e Brizola, até os maragatos reconhecem, hoje, que com todos os defeitos que tinha ou que ainda tem o Sr. Brizola, indiscutivelmente, ele foi um dos melhores, senão o melhor administrador que o Rio Grande teve.

A afronta do Sr. Lula ao povo gaúcho é quando ele disse que o Sr. Brizola não vai ao segundo turno, esta não foi apenas uma opinião política, foi nos lábios a ironia, porque disse o Sr. Lula, ipsis litteris: “Porque o Sr. Brizola representa o passado e nós representamos o futuro e aqueles moços que estão ali” - uma meia dúzia de estudantes que estavam com o Sr. Olívio Dutra atrás da Câmaras - “querem o futuro do Brasil”. Pois o Sr. Brizola, sem saber, respondeu no programa do PDT, ontem, sem saber respondia, categoricamente, ao Sr. Lula, quando disse das seis mil e trezentas escolas que ele implantou no interior gaúcho e que até hoje estão aí. Até hoje, lá no interior da minha Soledade, lá pelos capões do Rio Grande, esconde-se uma escolinha já com as paredes meio apodrecidas, porque foram de madeira - e, agora, os CIEPs e CIEMs já são de material, já são de outro material -, mas foi o início da grande visão de Brizola de que o futuro está na criança. Eu pergunto, o que fez até hoje o PT, nas administrações que teve? Não digo em Porto Alegre, porque recém iniciaram, mas em Diadema, em Fortaleza? Os seus titulares saíram do PT por incompatibilidades. Aquilo que eu disse ontem, o estalinismo centralista instalado no PT, na falsa democracia, autoritariamente, de cima para baixo, pelas cento e cinqüenta facções que existem no PT.

E mais, o Sr. Lula também afrontou o povo gaúcho quando disse, e disse rindo, ironicamente, tripudiando sobre nós todos, que mandou procurar na lista telefônica o sobrenome Silva e encontrou cinco mil e não sei o quê, e que pretensamente esses aí seriam eleitores do PT, quer dizer, fazendo blague da questão do Brizola no interior de São Paulo, quando todos nós sabemos, nós que conhecemos Brizola, que os seus ancestrais, os seus antecedentes faziam o trajeto Sorocaba-interior do Rio Grande para vender mulas, para fazer comércio, e que rigorosamente ele nunca negou a sua ascendência de Sorocaba. Portanto, a ironia do Sr. Lula é descabida. Brizola não foi a Sorocaba rever os antigos Brizola, dizendo que eram eleitores, como os Silva do Sr. Lula, ontem.

Então, efetivamente, o Ver. Vieira da Cunha falou com propriedade. O Sr. Lula não teve respeito com a memória que o povo gaúcho guarda de Leonel Brizola, não pela idade, mas pelo ventre de sua fecunda administração que ficou aqui, como todos nós sabemos. Foi um desrespeito que os brasileiros, principalmente os rio-grandenses saberão responder nas urnas com a votação que o Sr. Lula há de ter no Rio Grande do Sul.

Concluo, citando uma denúncia que o PTB faz em São Paulo, pág. 03 de “Zero Hora”, sobre o dinheiro gasto pelo sindicato na campanha do Sr. Lula. Principalmente o Sindicato dos Metalúrgicos recebe dinheiro de outros países. E a Constituição Federal proíbe aos partidos políticos o recebimento de recursos financeiros de entidades e governos estrangeiros ou de subordinação a estes. Entrou no TRE paulista uma denúncia do PTB, consubstanciada em matérias da “Isto É”, da “Folha de São Paulo” e de outros órgãos de imprensa, pedindo a condenação do PT por receber financiamento estrangeiro e usar na campanha do Sr. Lula.

E, para finalizar, digo que quem teve quinze anos no exílio, o brasileiro mais tempo exilado do País, ser afrontado ontem como foi pelo Sr. Lula, é um escárnio ao povo gaúcho e principalmente a nós, trabalhistas. E como diz o Sr. Tarso Genro, que está liderando uma campanha, que se o PT não for ao segundo turno, votará em branco. Está claro que o PT é o inimigo número um do trabalhismo. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O último orador inscrito em Explicação Pessoal é o Ver. Flávio Koutzii.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, realmente acho que às vezes a recíproca não é verdadeira. Nós, quando se rememorava a data do nascimento de Getúlio Vargas, anteontem, tivermos o respeito e a cautela de destacar na intervenção exatamente aqueles aspectos políticos próprios do último período de 1950, 1954, e fizemos com absoluta convicção. Mas acho que facilitamos um grande mal-entendido, aqui, porque o Ver. Vieira da Cunha, com a visão totalitária que tem da história, porque ele pensa que a sua leitura da história do Brasil é a leitura certa, a única possível; a sua juventude não lhe serviu, e isso fica evidente toda vez que ocupa a tribuna, para saber que neste País teve uma ditadura de 1937 a 1945, de que aqui Getúlio Vargas, por um longo período, significou essa combinação própria de certos fenômenos populistas de direita, dando algumas concessões aos trabalhadores com uma mão e pau na outra. Todo mundo sabe disso, está nos livros. E não foram três meses, nem três anos, foi mais de uma década, e que todos nós reconhecemos, marcaram profundamente por isso. O que nos pedem? Que façamos uma leitura acrítica da história do nosso País? Mas isso é brincadeira! O PDT pensa que o PT é um fenômeno que caiu de algum planeta. Ele tem uma lógica, absolutamente ligada à superação daquilo que era herança do período varguista em termos de organização sindical, de atrelamento das lideranças, de possibilidade de intervenção quando os condutores do sindicato se atreviam a uma conduta política mais autônoma e mais ligada aos interesses dos trabalhadores.

Então, aqui, não tem que falar em respeito nem desrespeito, nem preparo e nem despreparo, se trata de uma visão política diferente, baseada numa leitura da história que não é patrimônio de uma pequena minoria. Essa é uma questão central desse País.

Eu não me lembro sobre o período de Vargas, que se tenha organizado alguma coisa com significado político da CUT. Gostem ou não gostem, CUT, CGT e todas as tentativas de criação de uma representação autônoma dos trabalhadores é a ruptura na marra de amarras da lei, que só o processo, impulsionado especialmente pela luta dos que hoje se aglutinam no PT e algumas outras fontes de esquerda permitiram. Então, nós temos toda a autoridade política, não falta ao Lula autoridade política nenhuma. Ele foi o líder das greves principais que romperam esta camisa de força. É preciso muito atrevimento e muita falta de consideração com a história contemporânea para não se dar conta disso. Uma coisa é não aceitar o projeto do PT e combatê-lo naquilo que ele é, mas não cometer esta extraordinária vulgaridade de desfazer completamente o significado da história dos últimos trinta e cinco, quarenta anos e reconhecer, ao menos, que, sim, os seus adversários têm uma história de dez anos, perfeitamente clara. Querem contestar, contestem, mas contestem a esta história. Sim ou não, é na década de 1980 que se construiu o movimento sindical autônomo organizado neste País, e não foi Getúlio, foi o PT, a CUT, e Lula teve um papel de protagonista. É óbvio isto aí. Isto dá muita autoridade política, porque se não fosse assim, não teríamos hoje o papel e a força que temos. Despreparo? Tem que acabar, especialmente no PDT, esta visão aristocrática do que é o preparo e o despreparo. Alguém ter experiência política extraordinária desses últimos onze anos, ter sido o líder sindical mais lúcido e combativo a partir de 1978, ter tido a percepção de que precisava construir um partido para representar esse projeto e deixar de fazer aquilo, quer dizer, lutar no dia da greve e depois votar no patrão no dia da eleição. Lula foi central nisto.

Haveria muito mais coisas para dizer sobre este tema, mas só queria terminar dizendo o seguinte: ao contrário da forma como os nossos colegas, Vereadores do PDT perceberam o programa de ontem, foi justamente vendo Brizola e Lula que eu tive certeza de que, nos meses que virão e da forma como Lula tem conseguido expressar e chegar ao coração e à mente do povo brasileiro, somos nós que vamos vencer. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Bosco Vaz, para Comunicação de Liderança.

 

O SR. JOÃO BOSCO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, até vou fugir um pouco desse tema e desta briga pessoal entre PDT e PT pela Presidência da República, até porque o meu Partido nem candidato tem ainda e dizem que é zebra, corre por fora. Mas, estou realmente preocupado com a extinção da várzea em Porto Alegre e das áreas de lazer, dos parques abandonados. Num trabalho profissional que fiz para a RBS Documentos, em cima desse tema, saímos Porto Alegre afora em busca de campos de várzea, de áreas de lazer, de praças, e constatamos que está cada vez mais difícil encontrar praças em condições, campos de várzea e praças para lazer do porto-alegrense. A exploração imobiliária cada vez mais está tomando conta, sem que alguém consiga inibir esta investida, cada vez mais forte, cada vez mais palpável.

Não adianta realmente dizer que no centro de Porto Alegre há a Redenção, há o Parque Marinha, há o Parcão. Estas três áreas de lazer são apenas um privilégio para aqueles que têm acesso fácil a estes espaços. E as pessoas que moram retiradas do Centro, que, para poderem ter lazer, precisam pegar ônibus, pagar passagem? É o pai de família, a esposa, os filhos. Vejam que realmente está difícil, e muito difícil, se ter lazer em Porto Alegre. As praças estão abandonadas, estão sujas, e quero dizer que não é de agora, desta Administração do PT, que está assumindo, já é de há muito. Inclusive, o ex-Vereador Frederico Barbosa fez uma proposta, no ano passado, aqui - e eu fui um crítico feroz dele, através da “Zero Hora” - em que ele propunha que fosse construído um cachorródromo nos parques, para que os cachorros tivessem uma via apenas para eles. Isto é realmente uma desproporção. Depois, o Frederico me procurou, pessoalmente, para explicar que um filho dele teria sido mordido por um cachorro, num parque. Mas a verdade é que as crianças estão realmente convivendo com estes problemas, os cachorros estão convivendo lado a lado com as crianças nos parques, não há ninguém cuidando dos parques, os parques estão sujos, abandonados, os brinquedos para as crianças já não existem mais, estão danificados, cada vez mais terceiros exploram serviços, cobrando da comunidade e não se sabe se há licença ou não. Este parquinho que tem na Redenção, cada fim de semana tem um preço naqueles brinquedos, ninguém toma iniciativa para saber se existe e por quanto tempo é a concessão para exploração daquele espaço. Então, acho que devemos fazer uma frente para que mais e mais pessoas tenham o acesso fácil ao lazer, ao divertimento, mas de uma maneira que não precise desembolsar dinheiro para consegui-lo.

Estamos vivendo, Ver. Gregol, tempos difíceis e estamos nesta luta aí pela ecologia que eu também prezo muito e batalho por ela. Então, devemos, quem sabe, cobrar promessas do hoje eleito Prefeito Olívio Dutra que, juntamente com outros candidatos, inclusive Antônio Britto, do meu Partido, disseram durante a campanha que Porto Alegre teria à disposição, pelo menos, trezentas áreas para praças e lazer. Então, faz-se necessário, com urgência, que estas localidades - pelos menos cem destas trezentas localidade destinadas para praças, lazer, campos de várzea - realmente sejam colocadas à disposição da comunidade.

Para concluir, então, reitero que os nobres Vereadores do PT conversem com o Prefeito para que ele coloque à disposição da comunidade estas áreas, parte delas, para que realmente se possa ter mais praças, áreas de lazer e mais campos de várzea, porque está cada vez mais difícil se praticar esporte nesta Cidade. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Liderança com o PTB, Ver. Luiz Braz.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Ver. Flávio Koutzii, respeito muito a opinião de V. Exª, mas quando V. Exª assumiu esta tribuna para falar sobre Getúlio Vargas, V. Exª talvez tenha cometido a mesma falha que cometeu, ontem, o Deputado Luiz Inácio da Silva, Lula. V. Exª, ao fazer a análise de Getúlio Vargas, na época de 1937, esqueceu-se de fazer uma análise do que era o Brasil de Getúlio Vargas. V. Exª esqueceu que o Brasil antes de Getúlio Vargas era um Brasil completamente dominado pelas oligarquias rurais, onde o trabalhador não tinha a menor oportunidade. O povo trabalhador brasileiro começou a ter algum tipo de oportunidade de vida somente após Getúlio Vargas, e é claro que ele não tinha meios de fazer uma organização sindical da classe trabalhadora, naquela época, como se tem oportunidade de fazer hoje. Mas, quem fizer uma análise diferente desta, está, no mínimo, falseando a verdade.

O Lula disse ontem - Ver. Dilamar Machado, V. Exª coloca que não tinha o voto para a mulher, veio a previdência, uma série de medidas, o voto não era secreto, começou a ser secreto depois de Getúlio Vargas, todas estas vantagens foram conseguidas por Getúlio Vargas – que o Partido vai chegar ao poder, mas ele não vai conseguir colocar em prática o programa do PT. Mas essa conversa eu já ouvi, há poucos dias, do Secretário da Administração, Buchabqui. Buchabqui disse que uma coisa é a pregação antes de chegar à Prefeitura, a outra coisa é depois que está na Prefeitura. Mas isto, ontem, o Deputado Luiz Inácio da Silva, o Lula, declarou no programa do Canal 2. Mas, usar as massas para se chegar ao poder e depois deixar toda aquela pregação para trás é, no mínimo, aquilo que se diz no dicionário a respeito de populismo. Usa-se as massas para se chegar ao poder, mas quando se chega ao poder se esquece completamente da pregação. Isto tudo o Lula disse ontem no canal de televisão.

Acho que este é o momento, Ver. Flávio Koutzii, de sermos tremendamente coerentes com os nossos programas partidários. A pregação que se fizer agora, para o povo, de possibilidade de modificação do Brasil, é o que tem que ser cumprido. Temos que falar sobre as coisas reais, sobre as coisas possíveis. Não podemos falar sobre o impossível. e eu me lembro muito bem que na pregação do PT se falava muito em estatização, encampação. Eu vi ontem o Secretário Antonio Hohlfeldt, chegando aqui, perguntado se encampava ou não, não tinha resposta, não sabia o que responder. E ontem o Lula disse que o problema não é mais estatizar, é diferente. Mas é claro que não pode ser, agora ele está precisando de recursos que vêm dos empresários. Ele precisa dos recursos dos empresários para poder fazer a sua campanha, porque com esta denúncia do PTB ontem, sobre os recursos que vêm de fora, e de repente acho que estes recursos vão ter que ser melhor fiscalizados agora, ele vai precisar de recursos de empresários. Então, quando precisa de recursos de empresários, ele começa a dizer que o negócio não é estatizar, o negócio não é bem este.

Realmente, o Deputado Federal Luiz Inácio Lula não foi coerente, ontem, quando falou sobre o Getúlio Vargas e não foi coerente também quando falou sobre a figura de Leonel Brizola. Utilizar um programa de televisão, até para fazer de repente um prognóstico, dizer o seguinte, que ele ia ficar no segundo turno, agora Brizola não ficaria no segundo turno. Ora, eu não estou acreditando que ele fique entre os três. Eu acho que ele não fica entre os três, porque aqui em Porto Alegre, com o exemplo que está dando a Administração do PT, eu acho que todo aquele entusiasmo da população, quando em novembro do ano passado votou no PT e votou nas forças radicais de esquerda para chegar até o Poder, eu acho que esse entusiasmo, depois de todos os exemplos que nós temos aí visto através da Administração, eu acho que esse entusiasmo deve ter caído demais. Então, o exemplo que dá Porto Alegre, o exemplo que deu Fortaleza lá no Norte, o exemplo que deu Diadema, eu acho que são exemplos que vão servir para que estas forças que estão emergindo agora e que estão apenas utilizando o sindicato e que estão utilizando as massas para chegar até o poder, e depois é claro esquecer as massas, porque ontem o Lula disse isso, disse exatamente isso num programa de televisão, eu acredito que estas forças realmente vão ser desmistificadas antes de 15 de novembro, e nós vamos ter aí um resultado real nas eleições de 15 de novembro para a Presidência da República: Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para uma Comunicação de Liderança, com a palavra, o Ver. Vieira da Cunha, pelo PDT.

 

O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o nobre Líder do PT, Ver. Flávio Koutzii, referindo-se ao meu pronunciamento, iniciou o seu com a seguinte frase: “A recíproca não é verdadeira”. Brilhante frase, Ver. Flávio Koutzii, frase esta que também escolho para dar início ao meu pronunciamento, lembrando ao nobre Líder do PT alguns episódios da história política bem contemporânea. Quando Brizola voltou do exílio, começou a reorganizar o Partido Trabalhista e agora o PDT, sempre se dirigiu ao PT, sempre, numa política de aproximação, e eu lembrava aqui ao Ver. Flávio Koutzii, há poucos dias, que sempre se referia com a seguinte expressão: PT é o nosso primo-irmão. Essa a expressão que utilizava o Brizola. A recíproca do PT, através de seu Presidente Nacional, foi a seguinte: Brizola pisaria no pescoço da própria mãe para chegar à Presidência da República. Quem não se recorda desta frase, Ver. Dilamar Machado? Quem iniciou esta grande discussão que nós estamos tendo hoje? Quem iniciou esta discussão senão o Lula, com esta frase? Então, a recíproca, Ver. Flávio Koutzii, nem sempre é verdadeira.

Agora, nas eleições municipais, Brizola foi a São Paulo e convenceu o Partido a retirar a sua candidatura para apoiar Luiza Erundina, sem pedir absolutamente nada em troca. Nada, nada em troca. E, num aparte anti-regimental, diz aqui o Ver. Décio Schauren que Brizola não tinha voto, mas se esquece que quando Brizola deu este apoio a Luiza Erundina, nas pesquisas ela estava em quarto lugar. Em segundo lugar, Ver. Décio Schauren, e foi muita coincidência que a partir daquele apoio do Brizola, em São Paulo, Luiza Erundina foi até o ponto de vencer as eleições em São Paulo. Para os petistas, mera coincidência. Vamos ver a força de Brizola em São Paulo agora, na eleição presidencial. Vamos ver se Brizola tem ou não tem mesmo voto em São Paulo.

Terceiro, vamos continuar, Ver. Flávio Koutzii, na recíproca não é verdadeira. Disse Brizola, pouco tempo atrás: se Lula chegar ao segundo turno e por acaso eu, Leonel Brizola, não chegar, pode contar o Lula com os votos dos companheiros - o meu e dos companheiros nossos do PDT. A recíproca não é verdadeira, diz o Ver. Flávio Koutzii, repito eu. Disse Lula, esta semana, e publicou a imprensa do centro do País, que a sua preferência no segundo turno não seria Brizola, mas Covas. Covas é mais amigo, mais companheiro, mais confiável. Foram as palavras de Lula noticiadas na imprensa do centro do País. Então, Ver. Flávio Koutzii, V. Exª tem plena razão, a recíproca nem sempre é verdadeira. Trago a V. Exª não uma frase, mas exemplos e citações tanto de um como de outro, verdadeiros e publicados na imprensa do nosso País.

Quanto à visão totalitária da história, a visão totalitária da história foi de Lula, no Câmera 2, ontem, desmerecendo a figura de Getúlio Vargas. Visão totalitária é essa que quer dar a idéia de Getúlio como a idéia do ditador de 1937, se esquecendo do Getúlio do discurso de 1947, cuja frase eu já disse aqui e repito, quando ele disse que a velha democracia liberal estava em franco declínio e que a ela pertenciam vários partidos de rótulos diferentes, mas com a mesma substância e que a outra democracia era a democracia socialista, a democracia dos trabalhadores e que a essa ele, Getúlio, se filiava em 1947. Lula não conheceu esse Getúlio de 1947, tampouco parece conhecer o Getúlio da Carta-Testamento de 1954. Aliás, justiça se faça a V. Exª que, desta tribuna, soube reconhecer, na Sessão de ontem, o valor da liderança histórica de Getúlio Vargas. Infelizmente, não foi esse o caminho seguido por Lula. Lula, realmente, no programa de ontem, nas suas últimas afirmações e na postura que vem tendo como candidato à Presidência da República, está numa posição muito pretensiosa, de que só ele é o novo e que Brizola representaria o passado e aquilo que está superado.

Mas, ele próprio, contradizendo as suas próprias declarações desta semana na imprensa do centro do País, quando declarava seu apoio a Covas, no mesmo programa, numa incoerência absoluta, disse primeiro que Brizola não chegaria ao segundo turno; depois, quando o jornalista lhe perguntava qual o candidato que ele preferiria para o segundo turno - eu até escrevi as suas palavras -, ele disse: “Prefiro o Brizola no segundo turno, porque aí não seria a disputa do ruim com o menor ruim, e sim, do melhor com o bem melhor”. Como ele é pretensioso, ele pretende que o bem melhor seja ele, mas, ao menos, faz, num rasgo de lucidez, um elogio a Brizola, porque assume publicamente que Brizola é um bom candidato. Mas ele não é só um bom candidato, ele é o melhor candidato e será o Presidente da República do nosso País. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste instante da Sessão, a Mesa abre o espaço especial solicitado pelo Ver. Luiz Machado para que esta Casa homenageie a memória do ex-Presidente da República Tancredo Neves pela passagem de seu falecimento em 21 de abril de 1985.

Falarão, neste espaço especial desta Sessão, os seguintes Vereadores: Dilamar Machado, Flávio Koutzii, Luiz Braz, Artur Zanella, João Dib e Luiz Machado, como proponente.

A Mesa vai fixar um prazo de cinco minutos para cada Vereador expor o seu pensamento a respeito do evento e concede a palavra ao Ver. Dilamar Machado, que falará pela Bancada do PDT.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a feliz iniciativa do Ver. Luiz Machado nos traz a esta tribuna, em nome da Bancada do Partido Democrático Trabalhista, para lembrar uma figura polêmica, às vezes, mas, indiscutivelmente importante na história política desta Nação das últimas décadas. Coincidentemente, nesta data em que se comemora o Dia da Inconfidência Mineira, o Dia de Tiradentes, o dia em que se comemora também a inauguração da Capital da República, Brasília, que há vinte e nove anos era tornada realidade pelo pioneirismo e pelo arrojo do Presidente Juscelino Kubitchek, se lamenta o acontecimento trágico do 21 de abril de 1985, quando a Nação Brasileira via perdida a esperança que ainda depositava numa transição clássica, democrática e ordeira de um longo período de ditadura, de nomeações, de insatisfações internas, de endividamento crescente desta Nação, com a morte do mineiro Tancredo Neves. Desempenhou o Ministro Tancredo Neves, o Governador, o Prefeito, o Deputado, o Senador, o Presidente Tancredo Neves, vários cargos públicos. Começou a destacar-se na história desta Nação exatamente no período em que Getúlio Vargas foi deposto, em 1945. Já naquela época, Tancredo Neves participava do primeiro escalão da política nacional. Notabilizou-se depois do período pré-golpista de 1961, quando Brizola, do Rio Grande, impediu, três anos antes, o golpe de 1964, assumindo, inclusive, o cargo de Primeiro-Ministro, naquela composição política feita na época e na qual ele teve grande participação. Indiscutivelmente foi uma das grandes figuras da política nacional. Acima de tudo, foi um grande negociador, até sua morte, chegando, inclusive, à Presidência da República.

Tancredo Neves participou de todos os episódios políticos desta Nação. Sem exceção! Foi um homem que marcou sua passagem pela terra e dele eu guardo uma frase que me parece muito adequada à jovem classe política de hoje, quando Tancredo, já doente, preparava-se para uma viagem ao redor do mundo, antes de assumir a Presidência da República, um repórter lhe fez a seguinte afirmação: “Dr. Tancredo, o Senhor está muito cansado. Não acha bom dar uma descansada, dormir mais um pouco?”, e o Tancredo, na sua mineirice, disse que para descansar já havia a eternidade. Efetivamente, era um homem trabalhador, acima de tudo, um homem habilidoso.

Eu o conheci quando Deputado na Assembléia Legislativa Estadual, quando Tancredo veio ao Rio Grande, já em campanha, embora a eleição daquele ano fosse indireta. Efetivamente, era uma figura impressionante como figura humana, um homem bom, um homem calmo, mas tremendamente habilidoso. Eu digo isto sem qualquer teor pejorativo, porque se fosse para fazê-lo dessa forma não viria à tribuna. Era uma das raposas da política nacional. No bom sentido a raposa. A inteligência, a astúcia, a audácia, por isto ocupou vários cargos e, coincidentemente, sua vida pública foi pautada pelo não-término de seus mandatos. Tancredo praticamente se notabilizou por iniciar o mandato e dele sair para um outro: Prefeito para Governador, de Governador para Presidente e de Deputado Federal para Senador, Senador para Ministro. Ele era um homem de grande agilidade política, indiscutivelmente. Essa data nos lembra uma grande lacuna, um vazio que ficou na política nacional e lamentamos que a doença que o levou à morte tenha evitado que ele assumisse a Presidência da República, indiscutivelmente, por sua grande competência política, o Brasil de Tancredo não seria o Brasil de Sarney. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador, Ver. Flávio Koutzii, pela Bancada do PT.

 

O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, pretendo uma intervenção breve e, nós refletimos antes, naquele momento, sempre, em que a Liderança tem que indicar quem vai falar numa Sessão desse tipo e optamos por não pedir que o autor da proposta o fizesse, porque nos pareceu uma omissão, de um lado, não estabelecer o registro de todo merecido da data e pelo menos de uma forma muito breve e concisa deixar claro que nós estamos falando e recordando um personagem central de anteontem, quer dizer, do momento exato de nossas vidas políticas nessa etapa, pela qual cada um, com convencimento político-ideológico que tenha, inclusive, está dando o melhor dos seus esforços e, muitos, a parte mais importante de sua vida, a sua energia.

Nós queremos reconhecer não só a figura protagônica e uma das figuras centrais nas últimas décadas políticas nesse País, que, efetivamente, foi a de Tancredo, e o Ver. Dilamar Machado recordou momentos precisos dessa trajetória. Devemos, obviamente, reconhecer a tragédia humana, essa ironia da vida e da história que representou para um homem que conseguiu finalmente chegar a essa responsabilidade extraordinária que é ser Presidente da República, ainda que no caso pela via indireta, morrer no momento dessa chegada e, inclusive, pelo que ele entendia, e a crônica da história registra assim, serem suas responsabilidades. Se a crônica é certa, seu próprio temor que um vazio passageiro levasse à intervenção do Exército fez com que descurasse das questões de saúde há muito tempo já evidenciadas e de alguma maneira chegasse a esta situação limite com a saúde muito mais comprometida. Não se pode esquecer, porque isto foi exatamente recente, o dramático espetáculo das vaidades que trataram de orbitar em torno deste homem já agonizante, as preocupações dos médicos, o fracasso do Hospital de Brasília, o vedetismo da equipe que o cercou no primeiro momento e que falhou, para lembrar este aspecto que também de alguma maneira o vitimou.

Fica o nosso reconhecimento da dignidade de alguém que, na verdade, do ponto de vista político, foi um adversário das nossas posições. Achamos e temos pautado as nossas intervenções aqui por isto, que é, talvez, uma das coisas mais importantes que um período de experiência e amadurecimento pode dar, que é reconhecer os adversários políticos, que eles são homens e mulheres com dignidade, com convencimento das coisas pelas quais lutam, e que é preciso distinguir o aspecto humano e pessoal da divergência política. E o distinguir muitas vezes fica sepultado nestes momentos de homenagens e reconhecimento, e nos pareceu que deveríamos registrar ao lado desta menção respeitosa o fato de que ele foi o grande arquiteto do caráter da transição conservadora que assistimos e, evidentemente, do ponto de vista da Bancada dos Trabalhadores uma responsabilidade importante nos desdobramentos políticos que nós vivemos hoje no dia-a-dia e na qual, praticamente, existe uma unanimidade nacional, todos nós sabemos que não é somente a responsabilidade política do Presidente Sarney, que a tem, e imensamente, mas é todo o resultado da postura política da Nova República que jogou nosso País na extraordinária crise política, moral e econômica que vivemos.

Então, o reconhecimento e o respeito aos homens e a nítida diferenciação no terreno político. Muito obrigado.

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Próximo orador, Ver. Luiz Braz, que falará em nome da Bancada do PTB.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nós do PTB não podíamos deixar de participar dessa homenagem que é feita à memória de Tancredo Neves. E lembrar que o importante em Tancredo foi o símbolo que ele representou; o importante em Tancredo foi que ele, de um momento para outro, fez com que a Nação Brasileira pudesse dar mostras do que é capaz. Essa Nação brasileira, que muitas vezes é desprestigiada em comentários, muitas vezes até internacionais, dizendo-se que o povo brasileiro é indolente, é preguiçoso, não tem responsabilidade, não tem objetivos. E naquele exato momento em que acontecia o passamento de Tancredo Neves, nós tínhamos a certeza de que nós fazíamos parte de um povo valoroso, de um povo que sabe o que quer, de um povo cheio de esperanças e que aguarda que a qualquer instante tudo aquilo que eles esperavam de Tancredo Neves possa surgir no seio de uma outra pessoa, mas que aquelas esperanças possam ser materializadas.

Nós tivemos episódios que envolveram sempre a vida de Tancredo Neves, quando ele participou como Primeiro-Ministro no Governo de Jânio, de um parlamentarismo que na verdade era feito apenas para enganar uma situação real que existia, onde ele não conseguia exercer as suas funções de Primeiro-Ministro, como também na época em que ele participou do Colégio Eleitoral, mas ele ia até o Colégio Eleitoral para poder derrotar o mesmo, para que o Brasil pudesse sair daquele período de ditadura para um momento de democracia plena. E ele, mesmo contra o que ele pensava, enfrentou o Colégio Eleitoral. E logo após, um acontecimento que até agora não foi muito bem explicado na história, a coisa ainda não ficou bem clara, bem explicada, ele, simplesmente, na hora de assumir o poder, não consegue assumi-lo, não consegue concretizar aquela esperança que o povo brasileiro depositava na sua figura e passa, então, na história, como um Presidente que nós tivemos, mas que, na verdade, não assumiu. Passa, na história, como alguém que iria assumir o poder e que teria um Vice-Presidente que seria o Sr. José Sarney. Mas aquilo que acontecia naquele instante cheirava um golpe, porque a figura de Tancredo representava o novo. A figura de Tancredo representava a quebra do poder que aquele grupo de 1964 ou de antes de 1964 até, porque a revolução de 1964, ela não é bem uma revolução, mas a figura de Tancredo representava um Brasil novo, com esperanças novas, com estruturas novas. A figura de Sarney representava exatamente o contrário: o continuísmo.

Então, aquilo que aconteceu no Colégio Eleitoral foi exatamente a possibilidade de aquele grupo que ainda se encontrava no poder, continuar no poder. Aquele ciclo que iniciou em 1964 somente será quebrado agora, no final do ano, com as eleições presidenciais. Aquilo que o povo esperava que iria acontecer com Tancredo Neves poderá acontecer agora, no fim do ano. Era para ter acontecido há muitos anos, quando Tancredo Neves resolveu disputar aquela eleição no Colégio Eleitoral, mas aquele ciclo de 1964 vai ser quebrado somente agora no final do ano. Aquele mesmo grupo que está no poder desde 1964 e que se encontra ainda no poder, poderá, ou não, dependendo da consciência política de cada um, deixar esse poder e deixar de ser uma porta aberta aos interesses internacionais que esmagam os interesses nacionais, exatamente no dia 15 de novembro. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. João Dib, pelo PDS.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Bancada do PDS não poderia deixar de fazer um registro, hoje, em que quatro anos são passados desde que Tancredo Neves nos deixou. Político essencialmente, Deputado, Senador, Governador de Estado, Ministro, Primeiro-Ministro, morreu sem que pudesse ser o Presidente deste País. E talvez tenha sido uma das coisas boas que ele fez para este País, porque a ele não se perdoaria nenhuma falha, porque dele se esperava tudo. Ele lançou para o povo brasileiro uma série de esperanças que foram fraudadas no Governo do Sr. José Sarney que, no entendimento deste Vereador, não poderia ter sido, de forma nenhuma, o Presidente deste País, não poderia ter assumido, mas os responsáveis, à época, entenderam que a Constituição lhe outorgava este direito. E este Presidente, José Sarney, é este o registro que o PDS quer fazer, fraudou a expectativa de Tancredo Neves, que pregava um mandato de quatro anos e que, ao término destes quatro anos, ele já não estaria mais na Presidência da República. Hoje, nós teríamos outro Presidente, se Tancredo Neves fosse o Presidente da República. E Sarney usou todos os recursos, usou todas as artimanhas, para ficar mais um ano como Presidente indesejado deste País. Teria feito Sarney, sem dúvida nenhuma, um ato de patriotismo, um gesto de estadista, se tivesse cumprido os quatro anos preconizados por Tancredo Neves.

Portanto, não vamos discutir a figura, contraditória até, de Tancredo Neves. Rendemos a nossa homenagem a um homem que quase chegou à Presidência da República, chegou, mas não assumiu, não viu, não tomou contato com o poder, não pôde dar a contribuição que desejava para melhorar este País. Por certo, seria muito melhor com ele do que com Sarney, mas certo também que, em 1988, nós teríamos tido eleições presidenciais, porque este era o seu desejo, que não foi cumprido pelo seu indevido sucessor. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz Machado.

 

O SR. OMAR FERRI: Peço que V. Exª fale, também, em nome do PSB.

 

O SR. LUIZ MACHADO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, é uma honra muito grande assumir a tribuna para falar em nome da minha Bancada, em nome do Partido Liberal e em nome do Partido Socialista Brasileiro.

Esta homenagem a Tancredo Neves eu requeri à Câmara. Esta homenagem nada mais é do que uma obrigação de quem também defendeu Tancredo no Colégio Eleitoral, como eu defendi. Eu defendi não com os votos. Eu defendi em frente ao Largo da Prefeitura, com duzentas pessoas da nossa periferia, onde a revista Isto É traz a reportagem de uma faixa onde se dizia: “Tinga unida na festa da vitória de Tancredo Neves”. Então, eu fiz a proposição à Mesa porque participei e também chorei junto, na despedida de Tancredo.

Eu vou falar um pouco da biografia do Dr. Tancredo e também da vida e obra de Tancredo. (Lê.)

“Dr. Tancredo Neves, nascido a 04 de março de 1910, em São João Del Rey, Minas Gerais, católico, casado com uma mulher de personalidade e caráter marcantes, Dona Rizolleta Neves, advogado e industrial.

Bacharel em Ciência Jurídicas e Sociais, cursou Faculdade de Direito em Minas Gerais, em 1932, pós-graduação em Finanças e Economia, Curso Superior de Guerra.

Tancredo Neves durante sua vida pública, galgou várias Legislaturas desde 1946, entre Vereador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador, até chegar à Presidência da República, sendo até Ministro do Estado no Governo de Getúlio Vargas, exercendo ainda vários cargos de importância no Governo de Minas Gerais e também a serviço do Governo Federal.

O reconhecimento à sua vida pública veio através dos anos com as inúmeras condecorações recebidas, tanto em nosso País como no exterior.

O povo brasileiro, desiludido com o Governo Militar que durante vinte longos anos vinha no comando deste País, fez com que nosso povo se erguesse e começasse a partir do fim de 1983 uma grande campanha pelas eleições “Diretas Já”. Muitos foram os problemas enfrentados, mas a vontade do povo brasileiro era uma só: eleger o seu presidente, o presidente de consenso nacional.

Após uma longa demonstração de civismo e patriotismo do povo brasileiro, viu frustrada a sua intenção de eleições diretas. Tendo que partir para uma eleição indireta pelo Congresso Nacional, onde o povo creditou toda a sua confiança naqueles que havia elegido e que faziam agora parte do Colégio Eleitoral.

Surge então o nome de consenso nacional, aquele que a Nação acreditava e depositava toda confiança para a transição democrática.

Chegou a hora da eleição pelo Colégio Eleitoral e, mais uma vez, o povo brasileiro deu uma demonstração de união e numa corrente só aguardou a vitória de seu candidato. Dr. Tancredo de Almeida Neves, com maioria avassaladora, vence seu oponente. Finalmente o povo comemorou num grito só em todo o território nacional a vitória tão esperada do nome de consenso nacional. Enfim, Dr. Tancredo de Almeida Neves era o Presidente do Brasil.

Mas esta felicidade constatada em todo o Brasil com as comemorações tão belas organizadas pelo povo duraria pouco. Na véspera de tomar definitivamente posse, Dr. Tancredo Neves se deparava com um problema de saúde antigo que o levava ao hospital. Foram, a partir desse dia, trinta e oito dias de angústia e sofrimento. O povo brasileiro sofria junto com o Presidente, era triste saber que a espera tinha sido tão longa e agora se via frustrada aquela alegria contagiante após a vitória de Tancredo.

Durante este período, mais uma vez notou-se o carinho do povo brasileiro para com seu Presidente. Em frente ao Instituto do Coração, em São Paulo, aglomeravam-se pessoas com as mais diversas situações financeiras, cor, religião, era uma só vontade: a do pronto restabelecimento de Tancredo.

Mas, o destino nos guardava uma dor profunda em 21 de abril de 1985.”

Eu quero agora relatar alguns fatos que eu li no livro do Antônio Britto, que diz assim: “Morreu Tancredo”. Diz o seguinte Britto, falando de uma conversa com Tancredo Neves, no leito do hospital: (Lê.) “A perspectiva de trabalhar num governo democrático, com ele, tinha me animado a aceitar o desafio. Ele olhou firme para mim, esquecendo um pouco o incômodo na barriga, e me disse: ‘A essa altura da vida, e ao ponto que cheguei, eu só tenho uma coisa a ganhar, Britto: preciso fazer um governo digno. Nós precisamos fazer um governo digno’. E insistiu muito nisso. Repetiu uma, duas vezes, essa frase: ‘Nós precisamos fazer um governo digno’. E me despedi dele e saí”.

Outra frase que marcou muito, do Dr. Tancredo, no leito da enfermidade: “Eu tomo posse amanhã nem que seja de maca. Depois vocês façam o quiserem comigo”.

Então, era um homem que queria tomar posse porque ele almejava fazer desse País uma verdadeira democracia. Eu quero dizer nessa homenagem que faço ao Dr. Tancredo, quero aqui dizer que os brasileiros que ali depositaram a sua confiança nos Deputados que elegeram Tancredo Neves à Presidência não se arrependem, porque Tancredo partiu, mas deixou o seu legado, o seu legado para os homens de bem, os homens democratas desta Pátria podem continuar o seu legado a qualquer momento, a qualquer hora e praticar para que siga aquela frase sempre dele: “Continuemos reunidos. Não vamos nos dispersar, continuemos reunidos em defesa da nossa democracia, em defesa da igualdade e do direito. Vamos defender sempre”. Vou ficar com a última frase, que diz o seguinte: “Somente homens de coragem têm lugar na história e este é Tancredo Neves, o mártir da nossa democracia brasileira”. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrado o período deste espaço especial destinado a homenagem à memória do ex-Presidente Tancredo Neves, na data de seu falecimento, solicitada pelo Ver. Luiz Machado. Estão encerrados os trabalhos da Sessão de hoje.

 

(Levanta-se a Sessão às 12h17min.)

 

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